8.9.05

As Duas Torres


Telejornal, RTP 1. José Rodrigues dos Santos dirige-se à repórter destacada para a implosão das torres altas outrora pertencentes a uma empresa que, num genial rasgo criativo, decidiu autointitular-se Torralta e, com o seu habitual ar obstipado (o José, não as torres ou a repórter), pergunta-lhe se as duas enormes montanhas de entulho deixadas pela implosão dos malogrados edíficios têm já atraído a curiosidade de muita gente. E não que é a feliz repórter responde afirmativamente? E acrescenta ainda, numa estocada final, que se esperam ainda numerosos magotes de basbaques em peregrinação entulhal no fim de semana que se avizinha. Ora aí está!! Pode haver muito pouca coisa que nos dê vontade de despegar os fundilhos das calças do sofá de napa, mas dêem-nos dois everestes de entulho a reluzir de novos e ainda com a poeira a assentar, que nada nos reterá em casa, nem que a miudagem tenha de ser convencida a toque de galheta. Pessoalmente, não vejo porque quererá o Belmiro de Azevedo fazer investimentos totalmente desnecessários em infraestruturas hoteleiras que atraiam turistas quando, obviamente, nada nos atrai tão profunda e irresistivelmente quanto um monte de escombros retorcidos (perdão, dois). A não ser que o objectivo seja também atrair a estrangeirada, uma vez que esses têm a mania que são doces e fingem que não gostam da arte do entulho, só para se darem ares.
No entanto, o espectáculo começou muito antes, quando o entulho ainda se encontrava na menos nobre forma de mamarracho devoluto. A populaça foi-se alapando confortavelmente nos telhados e nas copas de árvore, nos terraços e nas varandas, na marginal e nas encostas, tudo para ter um lugar privilegiado de onde se pudesse assistir ao grande acontecimento. Infelizmente, o grande acontecimento não foi um acontecimento grande, e a queixa mais ouvida entre os desalentados populares auscultados pelo omnipresente telejornal, é que a coisa durou menos ainda do que a primeira vez de um adolescente hormonalmente disfuncional. Uma das citadas populares chegou, até, a comparar depreciativamente a portuga implosão "com a daquelas torres lá de Nova Iorque, que nessas sim deu tempo para ver como deve ser", ainda que outro dos presentes a tenha recordado de que essas tiveram uma desvantagem decisiva: "ninguém avisou". Citações literais.
Outra testemunha do inédito acontecimento, substancialmente mais jovem e talvez por isso mesmo mais preocupada com o futuro do turismo do que com o presente dos monos caídos por terra, afiançava que "vai ser muito bom para Grândola, especialmente para nós que somos jovens e andamos à procura de emprego, e assim..." Ainda que permaneça alguma dúvida sobre o que quereria a jovem popular significar com aquele obscuro "e assim", palpita-me que este júbilo feminino terá muito a ver com este dia negro para a virilidade, em que milhares de mulheres aplaudiram o súbito colapso de dois enormes símbolos fálicos.
Porque era só isso que elas eram, ou não??

1 Comments:

At 8:13 da manhã, Blogger Bunny said...

Demorou mas lá te decisiste a entrar no maravilhoso mundo dos blogs :)
Tens jeito para a coisa, miudo!
Beijocas,
Bunny

 

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