O Dom de Ser Casmurro
Dom Casmurro, de Machado de Assis
Forçando um pouco a nota, e querendo armar ao pingarelho, que geralmente quero, diria que Machado de Assis (o senhor de ar austero na foto) teria, ele próprio, algo de casmurro. Tal supõe a curta polémica que manteve com Eça de Queirós a propósito da ausência de denúncia deste último da suposta transgressão moral n’ O Crime do Padre Amaro. Apesar do devaneio aberrante de querer impor moralismos normativos na arte literária alheia, o homem exercia a sua casmurrice com uma genialidade invulgar e uma ambiguidade moral contraditória da questiúncula queirosiana. Neste Dom Casmurro, espécie de tratado do ciúme de apreciação subjectiva, nunca explicado e avesso a esclarecimentos, é mais uma vez a facilidade coloquial da escrita que me impressiona. Aliar um interpelar permanentemente tuteante do leitor a uma imensa profundidade espiritual e imagética não está ao alcance de qualquer um: exige um domínio de mestre de uma língua, e Assis tem-no sobre a portuguesa. A estrutura de capítulos minúsculos introduzidos num título que conduz e delimita a leitura garantem um ritmo incomum, a leitura torna-se fácil, o livro cola-se às mãos e o traseiro ao sofá.
3 Comments:
Querido Prof. ainda bem que voltou à blogosfera num blog alone e só seu!!!... e ainda por cima ouve e a Radar! Iupiieee!
Lisbon Girl,
Olga
Cara Olga (a.k.a. Lisbon Girl),
Não sendo, nem tendo sido nunca, professor de ninguém, e como jamais tive um blog antes deste, só posso concluir que me confunde com outro blogger qualquer. De qualquer forma, obrigado pela visita.
eu pensei que estavas a falar de ti, do teu dom....
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