O Manuel Maria
Após uma das habituais trocas gratuitas de acusações e de achincalhos infantis que normalmente passa, em Portugal e não só, por debate político, Carmona Rodrigues levantou-se da candeira em que se encontava escarrapachado, aproximou-se do senhor que nos sorri beatificamente no cartaz acima reproduzido e estendeu-lhe a mão para um inevitável cumprimento. E estendida ficou, já que o pepsodentiano senhor lhe virou as costas e se pôs dali para a fora com todo o ar de quem estenderia a mão a Carmona com todo o prazer, mas apenas para lhe assentar umas valentes punhadas na reluzente careca, não fosse tão abrupto gesto parecer muito pouco presidenciável aos olhos das omnipresentes câmeras.
Antes de continuar, convém esclarecer que não sou eleitor do munícipio de Lisboa, que os dois partidos a que os gladiadores pertencem me suscitam igual repulsa pelo seu centrismo amodorrado e oco, e que quanto aos próprios contendores em si, nenhum me aquece nem arrefece (salvo seja), pese embora tenha de confessar um vago asco que me provoca o alvo sorriso e o cabelo-pior-que-capachinho do sujeito que encima estas palavras.
No dia seguinte, confrontado com a pouca católica atitude, Manuel Maria Carrilho afirmou que tudo isso era irrelevante, lateral, e que o que realmente importava eram as convicções, as políticas e as personalidades. Quão trágico é (ou quão cómico) que esta pessoa não compreenda que um acto destes, de grau zero de urbanidade, civilidade e do mais elementar respeito pelos outros e por si próprio, define de uma vez por todas a mais negra e vil ausência de qualquer personalidade ou carácter; como pode não compreender que este episódio, longe de ser um mero fait divers, é o reflexo de uma natureza mesquinha que não se pode esconder, bem pelo contrário, por trás de supostas convicções?
Comprovou-se aquilo de que há muito se suspeitava: este individúo é um grunho, e nenhuma cátedra de filosofia, nenhum ministério, nenhuma esposa-troféu a debitar inanidades poderão branquear a índole burgessa deste Manuel Maria como a Pepsodent lhe branqueia as favolas.
Espero que os eleitores de Lisboa não tenham, igualmente, perdido a mais elementar noção de decoro, e que, depois de apertarem a mão ao Manuel Maria, o mandem mais a sua prole para o raioqueoparta.com
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