14.12.05

O meu cone é maior que o teu

Sendo forçado pelas minhas obrigações académicas a transitar diariamente nas imediações da baixa lisboeta, assaltou-me a peregrina ideia de dar uma céptica espreitadela à pomposamente denominada "A Maior Árvore de Natal da Europa" que, depois de ter provocado o gáudio da populaça em Belém, se mudou este ano de armas e bagagens para o Terreiro do Paço. Mas se as expectativas, despojadas do seu crónico cepticismo pelo espírito da quadra, me pincelavam na mente uma espécie de sequóia festiva com um anjinho XL encarrapitado no topo, o que se me deparou na ex-governamental praça mais não era do que um cone gigantesco cravejado de lâmpadas.
Apesar de possuir a abertura de espírito suficiente para compreender que o epíteto "O Maior Cone Iluminado da Europa" seria eventualmente menos apelativo à curiosidade e imaginário gerais, não posso deixar de pensar que a verdade sem artifícios eufemísticos deveria ser o principal valor norteador destes eventos, pelo que sugiro a nomenclatura alternativa acima mencionada. Pese embora a quantidade de piadolas ordinárias que o nome desta inocente forma geométrica suscitaria nos mais alarves, esta inflexão de estratégia teria a vantagem inegável de abrir novas perspectivas de expansão e diversificação para os anos vindouros: que lisboeta não se orgulharia de poder afirmar à boca cheia ter na sua cidade "O Maior Paralelipípedo Iluminado do Mundo", ou até, quiçá "O Maior Cilindro Pintado à Pistola do Hemisfério Norte"?

5 Comments:

At 12:32 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Os paradoxos de um País "à beira da ruína" que se entretem com megalomanias para encher o olho.
Só faltam fitas e laços onde poder-se-ia pintar o que digo a seguir:
Assim se alimentam os famintos?Assim se derrubam barracas e se constroem casas dignas?
Assim se melhora a Saúde?A Educação?
Assim se promove o crescimento do Emprego?
Pois...
Talvez o último título que sugeriu fosse o melhor.

 
At 11:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

já começaram a desmontar o grande andaime. Há esperança! Agora só falta o estaleiro em frente. Já repararam que ninguém voltou a falar das obras do metro do Terreiro? Terá o grande andaime cónico sido, afinal, a tal escavadora de buracos gigantes (chamava-se Amélia, não era?) que veio respirar cá fora?

 
At 4:19 da tarde, Blogger Ulisses Martins said...

Os tugas são os maiores em tudo... :-)

 
At 1:59 da tarde, Blogger subtilezas said...

já não consigo olhar para o cone, pah!

 
At 12:09 da tarde, Blogger Purpurina Cor de Rosa said...

Fico "triste" por saber que deixaste de escrever.
Os bloguianos teem saudades (palavra maldita esta!) das tuas sátiras.
Alina

 

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