Memórias de uma queixa
Lisboa, 12 de Julho
Ante-estreia do vencedor da Palma de Ouro deste ano em Cannes, The Wind That Shakes The Barley, de Ken Loach. Longe de impressionar, e com a devida ressalva para Cillian Murphy e para a granulosa fotografia, o filme limita-se a confirmar que boas intenções não equivalem a bom cinema, e que a cartilha politica e socialmente empenhada de Ken Loach não faz dele um cineasta por aí além. Não é propriamente mau, longe disso, mas falta claramente golpe de asa ao formalismo quase académico de Loach, e é difícil compreender o prémio máximo atribuído por um júri presidido por Wong Kar-Wai. Estreia no fim do mês, e à falta de melhor programa de Verão…
Margem Sul, 15 de Julho
Memórias De Uma Gueixa, adaptação de um best-seller qualquer de um qualquer escritor, filme realizado por um dos inúmeros tarefeiros de mão para estas ocasiões e cujos nomes se fundem uns nos outros até ao irreconhecível. Ao contrário do anterior, este é mesmo mau, acentuado por aquele irritante hábito hollywoodesco de pôr os personagens de filmes situados fora de território americano a falar inglês, mas… com sotaque e palavras nativas à mistura para dar cor local. E assim se transforma o que seria apenas inofensivamente medíocre num objecto execrável.
Oeiras, 17 de Julho
Boa abertura do Cool Jazz Fest com a estreia de Kanye West em Portugal. Colocando-se, mais passo menos passo, numa posição equidistante entre a vacuidade pseudo-gangsta de 50 Cent ou de The Game, as lamúrias cabotinas de Eminem, e o puro talento cool (como a Fest) de Pharrell ou de RZA, o senhor West apresentou-se acompanhado por um DJ, um par de vozes de inspiração soul, quatro violinos, dois violoncelos e uma harpa. Profissional e competente, ainda que prejudicado pelo mau som, fez mais que suficiente para justificar a deslocação e animar a maralha. Se é verdade que acabou por não deslumbrar, apesar de fugir a tantos lugares-comuns do género como atafulhar o palco de MCs ou cultivar a pose de cretino enfadado; não é menos verdade que esteve muito longe de se embaraçar ou de dar lugar ao bocejo, mesmo com o oportunismo marca “pregar aos convertidos” na utilização dos beats de Damien Marley ou Gnarls Barkley, entre outros. Mas o homem tem talento e isso chega, não chega?... Nem sempre, mas neste caso foi suficiente. Que tenha longevidade e venha mais vezes.
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