12.10.06

Egrégios Avós

As selecções nacionais, e por arrasto o futebol internacional, são instituições perfeitamente descabidas. No meio de uma paixão, a do futebol, que se deseja e se vive de forma perfeitamente irracional, que raio de interesse tem que exista uma equipa que se apoia com base em motivos racionais? O futebol é para ser vivido aos berros e uivos, com vernáculo e bacoradas, facciosismo e clubite. Em suma, irracionalmente. Por isso faz muito mais sentido torcer pelo clube que se escolhe por razão absolutamente nenhuma do que pela selecção que nos é impingida porque aconteceu termos nascido no mesmo território geopolítico.
Isto escrito, urge reconhecer que a selecção nacional portuguesa é uma instituição particularmente medíocre, até para selecção. E até para portuguesa. É invariavelmente mesquinha, envergonhada e raquítica nas vitórias, e só ela conseguiria tornar um segundo lugar num europeu e um quarto lugar num mundial em conquistas pífias, alimentadas a triunfos anémicos de uns-zeros e penalties, num anti-dinamismo titubeante de tem-te-não-caias que acaba mesmo por cair estrepitosamente aos pés de outras selecções igualmente foleiras, ainda que talvez mais higiénicas. E aí reside o segundo grande problema: ao anonimato das vitórias míseras sobrepõem-se sempre os maus momentos espalhafatosos, normalmente apimentados por um pormenor humilhante qualquer e por um fair-play à Mike Tyson que nos engrandece a todos enquanto nação.
Como redenção, apenas as robustas vitórias alcançadas frente a oponentes do quilate de um Kazaquistão, de um Turquemenistão ou mesmo, em dias de rara inspiração, de um Zimbabwe.

1 Comments:

At 1:37 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Vou ser mais assíduo. Continua brilhantemente a escrever...

 

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