A Peste da Ignorância
Ao aproximar-me do final da leitura d’A Peste, de Albert Camus, incomoda-me algo que de igual forma me tinha atormentado há muitos anos, ao ler O Estrangeiro, e que bem mais recentemente voltou aquando da releitura do mesmo livro. Por muito que aprecie (e aprecio) o estilo, a escrita aparentemente simples, a humanidade singela, as digressões filosófico-existencialistas; não consigo deixar de ter a irritante sensação de que algo me escapa. E tenho certeza que escapa mesmo. Há mais qualquer coisa, oculta sob as camadas que me são perceptíveis e que, por minha manifesta inépcia, não consigo compreender, nem tão pouco perceber-lhe os contornos. Não tenho contexto existencialista, nunca li Sartre nem Beauvoir, tenho com sucesso conseguido esquivar-me a conhecer qualquer rudimento da sua cartilha filosófica e literária. Mas apetece-me ler Camus. E leio. Tenho vontade de gostar de Camus. E gosto. Gostaria de compreender Camus. E não compreendo.
É possível que me esteja a esforçar demasiado, é possível que o mais sensato seja limitar-me à fruição das palavras por si próprias e pelo que me oferecem… mas manifesto a minha ignorância impotente.
A gravura que ilustra esta curta prosa foi a primeira encontrada pelo incansável Google quando se lançou em busca de uma foto com “Camus” como palavra chave. O facto de me ter saído na rifa este senhor de porte marcial alegra-me na medida em que prova que não sou o único a estar equivocado quanto a quem era, de facto, Albert Camus…